Serendipidade
«Isto tem de ter uma razão qualquer» – pensamos amiúde.
É tão difícil acreditar em coincidências. É tão difícil deixarmos momentos especiais, significativos, entregues apenas ao mérito do acaso. Achamos sempre que não, que não pode ser, isto teve uma razão para acontecer.
Mas, e se não a houver? E se tudo não passar de caos?
Caos? Não. Não cremos nisso. Não queremos isso! Queremos o universo a dar sinais, o destino a cumprir‑se.
«O meu caminho a cruzar‑se, inadvertidamente, com o teu. O meu olhar absorto a repousar no teu, distraído.» Atentos a partir daí. Conexos. A necessidade vital, que se gera doravante, de contacto. «Pode lá isto ser coincidência!» – cremos.
Mas, e se for? E se não for mais do que isto?
E se não for mais do que vontade de acreditar que é mais? Que se o destino nos une por vontade pré‑escrita, nada do que façamos estará, de facto, errado. É categórico – tinha de acontecer, estava escrito.
Grande demais para caber só no fortuito!
Mesmo que não resulte – era um caminho que tínhamos de percorrer, era uma dor que tínhamos de aprender. E assim, há menos margem para o arrependimento, e a culpa fica mais fácil de resolver – foi o que teve de ser.
Mas, e se não foi? E se pudesse nunca ter sido?
E se o que vivemos pudesse facilmente ter acontecido com qualquer outra pessoa?
O que somos, afinal, no amor? Destino ou apenas uma serendipidade qualquer?
nome feminino
1. aptidão de atrair a si acontecimentos favoráveis de maneira fortuita; dom de fazer boas descobertas por acaso
2. acontecimento favorável que se produz de maneira fortuita; acaso feliz; descoberta acidental