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Crónica do Quotidiano

Ana Pinto

Crónica do Quotidiano

Ana Pinto

O monstro cá dentro

Foto de cottonbro studio no Pexels

Às vezes parece-me que temos todos o mesmo rosto, que nada nas feições de todos os seres humanos realmente se distingue. Não importa se uns são altos e outros magros, uns têm olhos verdes e outros são ruivos. Parece-me que, pelo menos num instantâneo vislumbre, todos os nossos característicos traços se fundem numa amalgamada similitude.

Se calhar, até somos mesmo todos assim, indistintos e vulgares, mas seguimos no mundo achando-nos únicos e originais...

Mas esta ideia de democrática aparência até nos poderia ser aprazível, e fazer-nos sentir confortáveis nesta imensa pele humana toda justamente igual.

Os detestáveis preconceitos, todos os que nascem à flor da pele, deixariam automaticamente de terem essa estúpida razão de existir.

A justiça seria porventura mais inteligível e a paridade mais eficazmente garantida.

Tudo correria hipoteticamente bem – até encontrarmos os monstros e nos vermos reflectidos nos seus rostos.

Não, os monstros não são como nós. Os terroristas, os assassinos, os ladrões sem escrúpulos, os violadores, os impostores, os agressores – não têm nada a ver connosco, e nós não podemos ter nada em comum com eles.

Eles circulam no meio de nós, todos o sabemos. Mas não são como nós e a diferença é (tem de ser!) óbvia, jamais se poderiam confundir connosco.

Precisamos impreterivelmente da diferença, para sermos melhores, para sabermos que somos melhores. Para tranquilizar as nossas consciências e dormirmos descansados à noite.

Sem despertarmos o monstro cá dentro.

 

O monstro cá dentro [Reel]

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